quarta-feira, 13 de junho de 2012

Toxicologia Diesel


Toxicologia Diesel


“Os seres humanos não podem suportar elementos tóxicos, não adianta disfarçar, pois as consequências são visíveis e podem passar de uma geração para as outras.”


Todos os direitos reservados a Fernando Picarelli Martins

Locomotiva diesel-elétrica nº 3132-4 da MRS Logística S.A., série U20C, fotografada ao sair do depósito de combustíveis da empresa, em Jundiaí. Foi fabricada em 1981, pela General Electric do Brasil, como parte de encomenda feita pela RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. Foto tirada em fevereiro de 2001, por Fernando Picarelli Martins.



O trecho a seguir foi retirado das páginas 4,5 e 6 do documento “Toxicologia das emissões veiculares de diesel: um problema de saúde ocupacional e pública” de João Roberto Penna de Freitas Guimarães.

“Destes estudos é possível compreender porque as emissões de diesel oferecem sérios riscos para a saúde pública. Pela coleta de dados mais recente, já está comprovado que as populações que se encontram na “rota do diesel”, ou seja, aquelas pessoas que moram e/ou trabalham em avenidas ou nas proximidades de autopistas e estradas movimentadas, apresentam problemas respiratórios e índices de câncer de pulmão em maior quantidade do que aquelas que estão longe de tais áreas.
Também já se sabe que há profissões de maior morbidade por exposição às emissões de diesel: motoristas de caminhão, motoristas de empilhadeiras a diesel,  guardas e fiscais de trânsito,  pessoal de manutenção em garagens de ônibus,  caminhões e utilitários, pessoal em manutenção de rodovias, ferrovias (locomotivas a diesel) e túneis, agricultores (tratores e implementos agrícolas a diesel) e  trabalhadores em minas de carvão. No estudo da NIOSH que acima mencionamos, estimava-se no final dos anos 80 que mais de 1.350.000 trabalhadores nos EUA estavam expostos.
Contudo, um dos estudos mais recentes e que causou maior preocupação nos EUA foi o publicado pelo  NRDC – Natural Resources Defense Council (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais): No Breathing in the Aisles – Diesel exhausted inside School Buses, que indica que as pesquisas feitas nos ônibus escolares da Califórnia demonstram que o ar dentro da cabine dos ônibus (onde ficam as crianças) contém diversos dos poluentes que acima foram citados, sendo inalado pelas crianças a caminho da escola e no retorno para casa. Deste estudo foram tiradas diversas conclusões:
 - Uma criança dentro do ônibus está respirando 4 vezes mais emissões tóxicas do diesel (emitido pelo próprio ônibus) do que uma pessoa que está num carro trafegando próximo do mesmo ônibus, na rua;
- Os níveis de compostos tóxicos provenientes das emissões de diesel dentro do ônibus são maiores na parte de trás do que na parte da frente;
- Os níveis de compostos tóxicos provenientes das emissões de diesel dentro do ônibus aumentam ainda mais em trechos de subidas (ladeiras, por exemplo);
- Estima-se que a cada 1 milhão de crianças indo e voltando da escola durante o ano escolar, entre 23 e 46 futuramente desenvolverão câncer de pulmão.
De fato, o NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health, a  IARC - International Agency for Research on Cancer, a  USEPA - United States Environmental Protection Agency, e o  NTP - National Toxicology Program concordam que há uma relação direta entre a exposição às emissões do diesel e o câncer de pulmão.
Não é à toa. Dos produtos tóxicos que acima listamos (segundo a EPA), há aqueles que até o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil reconhece como cancerígenos: textualmente na Norma Regulamentadora 15 (ou NR 15), em seu Anexo 13, a 4-nitrodifenila é citada como substância cancerígena para a qual não é permitida “nenhuma exposição ou contato, por qualquer via”.
Mas não paramos por aí. O benzo (a) pireno (ou simplesmente Benzopireno) é também textualmente citado pelo Anexo 13 da NR 15, mas desta vez não se fala em “substância cancerígena”, apenas que “as  operações” com Benzopireno são “insalubres em grau máximo”, não se prestando qualquer explicação do motivo pelo qual são assim classificadas.
Explicamos: o Benzopireno é há mais de cem anos reconhecido como cancerígeno e mutagênico. Várias publicações assim o confirmam, como se pode ver a seguir.
Em trabalho desenvolvido pela Divisão de Toxicologia e Ecotoxicologia da CETESB de São Paulo/SP, publicado em 1981 pela Revista Brasileira de Saúde Ocupacional n° 36, intitulado “Aspecto Toxicológico dos Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleares (PAH)”, Fernícola e Azevedo indicam, dentre alguns poluentes atmosféricos urbanos, o benzo(a)pireno, o benzo(e)pireno, o benzo(a)antraceno e os fluorantenos como  agentes carcinogênicos identificados no ar urbano, indicando os gases da exaustão de veículos automotores como fontes significativas de tais poluentes. Chegam a destacar que o benzo (a) pireno foi encontrado no solo das proximidades das rodovias em elevadas concentrações (2.000 μg/kg).
Nogueira e Montoro, organizando a obra Meio Ambiente e Câncer, publicada em 1983, confirmam diversos Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleares de ação carcinogênica, aí incluindo o benzopireno. Citam também um risco significativo de se desenvolver tumores a partir do contato com fuligem (material particulado).”
Este trecho pode ser encontrado em:

Comentário:
No Brasil, o transporte ferroviário é feito a partir de locomotivas de motor a diesel, pois por ser um país de grande território, para possuir em toda extensão de sua malha ferroviária sistema elétrico, seria necessário um grande investimento para implantação deste sistema.
Contudo, a queima do diesel, como apresentado no texto, traz consequências ruins à saúde, dando maior ênfase nos danos causados às vias respiratórias, porém estudos apontaram que alguns desses componentes encontrados no diesel apareceram no solo próximo às rodovias em que a quantidade de veículos movidos a diesel é bastante intenso, o que pode ocasionar contaminação de águas que fiquem próximas à região de grande fluxo de veículos com esse tipo de motor, levando até para locais mais distantes.
Se for considerado o dano causado pela ferrovia em relação a esse tipo de contaminação é muito menor do que os danos causados nas rodovias, pois o fluxo de veículos em rodovias torna-se muito maior do que em uma ferrovia, devido à capacidade de carga que cada um suporta e a procura maior por transportadoras que utilizam caminhões. Apesar de utilizar menos motores para carregar uma grande capacidade de carga, deve-se considerar as locomotivas a diesel poluidoras do solo, pois estas liberam esses componentes nocivos nas proximidades do trecho ferroviário por qual passa, portanto, deve-se se pensar em todos os impactos possíveis que podem ser gerados, mesmo que estes sejam pequenos ou pouco visíveis, pois quando somados ao longo dos anos, acabam virando um enorme problema. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário