Toxicologia Diesel
“Os
seres humanos não podem suportar elementos tóxicos, não adianta disfarçar, pois
as consequências são visíveis e podem passar de uma geração para as outras.”
Todos os direitos reservados a Fernando
Picarelli Martins
Locomotiva
diesel-elétrica nº 3132-4 da MRS Logística S.A., série U20C, fotografada ao
sair do depósito de combustíveis da empresa, em Jundiaí. Foi fabricada em 1981,
pela General Electric do Brasil, como parte de encomenda feita pela RFFSA Rede
Ferroviária Federal S.A. Foto tirada em fevereiro de 2001, por Fernando
Picarelli Martins.
O trecho a seguir foi retirado das páginas 4,5 e 6
do documento “Toxicologia das emissões veiculares de diesel: um problema de
saúde ocupacional e pública” de João Roberto Penna de Freitas Guimarães.
“Destes
estudos é possível compreender porque as emissões de diesel oferecem sérios
riscos para a saúde pública. Pela coleta de dados mais recente, já está
comprovado que as populações que se encontram na “rota do diesel”, ou seja,
aquelas pessoas que moram e/ou trabalham em avenidas ou nas proximidades de
autopistas e estradas movimentadas, apresentam problemas respiratórios e
índices de câncer de pulmão em maior quantidade do que aquelas que estão longe
de tais áreas.
Também
já se sabe que há profissões de maior morbidade por exposição às emissões de
diesel: motoristas de caminhão, motoristas de empilhadeiras a diesel, guardas e fiscais de trânsito, pessoal de manutenção em garagens de
ônibus, caminhões e utilitários, pessoal
em manutenção de rodovias, ferrovias (locomotivas a diesel) e túneis,
agricultores (tratores e implementos agrícolas a diesel) e trabalhadores em minas de carvão. No estudo
da NIOSH que acima mencionamos, estimava-se no final dos anos 80 que mais de
1.350.000 trabalhadores nos EUA estavam expostos.
Contudo,
um dos estudos mais recentes e que causou maior preocupação nos EUA foi o
publicado pelo NRDC – Natural Resources
Defense Council (Conselho de Defesa dos Recursos Naturais): No Breathing in the
Aisles – Diesel exhausted inside School Buses, que indica que as pesquisas
feitas nos ônibus escolares da Califórnia demonstram que o ar dentro da cabine
dos ônibus (onde ficam as crianças) contém diversos dos poluentes que acima
foram citados, sendo inalado pelas crianças a caminho da escola e no retorno
para casa. Deste estudo foram tiradas diversas conclusões:
- Uma criança dentro do ônibus está respirando
4 vezes mais emissões tóxicas do diesel (emitido pelo próprio ônibus) do que
uma pessoa que está num carro trafegando próximo do mesmo ônibus, na rua;
-
Os níveis de compostos tóxicos provenientes das emissões de diesel dentro do
ônibus são maiores na parte de trás do que na parte da frente;
-
Os níveis de compostos tóxicos provenientes das emissões de diesel dentro do
ônibus aumentam ainda mais em trechos de subidas (ladeiras, por exemplo);
-
Estima-se que a cada 1 milhão de crianças indo e voltando da escola durante o
ano escolar, entre 23 e 46 futuramente desenvolverão câncer de pulmão.
De
fato, o NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health, a IARC - International Agency for Research on
Cancer, a USEPA - United States
Environmental Protection Agency, e o NTP
- National Toxicology Program concordam que há uma relação direta entre a
exposição às emissões do diesel e o câncer de pulmão.
Não
é à toa. Dos produtos tóxicos que acima listamos (segundo a EPA), há aqueles
que até o Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil reconhece como
cancerígenos: textualmente na Norma Regulamentadora 15 (ou NR 15), em seu Anexo
13, a 4-nitrodifenila é citada como substância cancerígena para a qual não é permitida
“nenhuma exposição ou contato, por qualquer via”.
Mas
não paramos por aí. O benzo (a) pireno (ou simplesmente Benzopireno) é também
textualmente citado pelo Anexo 13 da NR 15, mas desta vez não se fala em
“substância cancerígena”, apenas que “as
operações” com Benzopireno são “insalubres em grau máximo”, não se
prestando qualquer explicação do motivo pelo qual são assim classificadas.
Explicamos:
o Benzopireno é há mais de cem anos reconhecido como cancerígeno e mutagênico.
Várias publicações assim o confirmam, como se pode ver a seguir.
Em
trabalho desenvolvido pela Divisão de Toxicologia e Ecotoxicologia da CETESB de
São Paulo/SP, publicado em 1981 pela Revista Brasileira de Saúde Ocupacional n°
36, intitulado “Aspecto Toxicológico dos Hidrocarbonetos Aromáticos
Polinucleares (PAH)”, Fernícola e Azevedo indicam, dentre alguns poluentes
atmosféricos urbanos, o benzo(a)pireno, o benzo(e)pireno, o benzo(a)antraceno e
os fluorantenos como agentes carcinogênicos
identificados no ar urbano, indicando os gases da exaustão de veículos
automotores como fontes significativas de tais poluentes. Chegam a destacar que
o benzo (a) pireno foi encontrado no solo das proximidades das rodovias em
elevadas concentrações (2.000 μg/kg).
Nogueira
e Montoro, organizando a obra Meio Ambiente e Câncer, publicada em 1983,
confirmam diversos Hidrocarbonetos Aromáticos Polinucleares de ação
carcinogênica, aí incluindo o benzopireno. Citam também um risco significativo
de se desenvolver tumores a partir do contato com fuligem (material
particulado).”
Este trecho pode ser encontrado em:
Comentário:
No Brasil, o transporte
ferroviário é feito a partir de locomotivas de motor a diesel, pois por ser um
país de grande território, para possuir em toda extensão de sua malha
ferroviária sistema elétrico, seria necessário um grande investimento para
implantação deste sistema.
Contudo, a queima do diesel,
como apresentado no texto, traz consequências ruins à saúde, dando maior ênfase
nos danos causados às vias respiratórias, porém estudos apontaram que alguns
desses componentes encontrados no diesel apareceram no solo próximo às rodovias
em que a quantidade de veículos movidos a diesel é bastante intenso, o que pode
ocasionar contaminação de águas que fiquem próximas à região de grande fluxo de
veículos com esse tipo de motor, levando até para locais mais distantes.
Se for considerado o dano
causado pela ferrovia em relação a esse tipo de contaminação é muito menor do
que os danos causados nas rodovias, pois o fluxo de veículos em rodovias
torna-se muito maior do que em uma ferrovia, devido à capacidade de carga que
cada um suporta e a procura maior por transportadoras que utilizam caminhões.
Apesar de utilizar menos motores para carregar uma grande capacidade de carga,
deve-se considerar as locomotivas a diesel poluidoras do solo, pois estas liberam
esses componentes nocivos nas proximidades do trecho ferroviário por qual passa,
portanto, deve-se se pensar em todos os impactos possíveis que podem ser
gerados, mesmo que estes sejam pequenos ou pouco visíveis, pois quando somados
ao longo dos anos, acabam virando um enorme problema.
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